TERAPIA DE EMDR

FORTALECER COGNIÇÕES ADAPTATIVAS

“A terapia de EMDR – sigla em inglês para Movimento Ocular, Dessensibilização e Reprocessamento – é uma abordagem psicoterapêutica de oito fases que enfoca o sistema fisiológico de processamento na origem e no tratamento de problemas de saúde mental (Shapiro, 2001). Sua base teórica é o modelo de Processamento Adaptativo de Informação (PAI), no qual a fonte primária da psicopatologia é a presença de memórias de experiências adversas de vida que foram processadas de maneira inadequada. Essas memórias armazenadas de forma inapropriada, que incluem percepções, sensações, crenças e emoções ocorridas na ocasião do evento adverso de vida, podem ser disparadas por estímulos atuais internos e externos, contribuindo para uma situação disfuncional no presente. Esse estudo foi desenvolvido no começo da década de 1990 e, desde então, tem sido validado por pesquisas que demonstram o papel desempenhado por eventos perturbadores na gênesis de várias formas de sintomatologia psicológica e somática. (Affifi et al., 2012; Felitti et al., 1998).

Com base em ampla pesquisa, o EMDR foi oficialmente reconhecido como tratamento de trauma empiricamente validado em diretrizes práticas estabelecidas em todo o mundo. Mais recentemente, as orientações da Organização Mundial de Saúde (2013) indicou que a terapia cognitiva comportamental (TCC) e o EMDR são as únicas terapias recomendadas para crianças, adolescentes e adultos com TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático). Entretanto, foram destacadas algumas diferenças claras: “Como a TCC com foco no trauma, o EMDR tem como alvo-objetivo reduzir o desconforto subjetivo e fortalecer cognições adaptativas relacionadas ao evento traumático. Por outro lado, contrariamente ao mesmo tipo de TCC com foco no trauma, o EMDR não envolve:

a) descrições detalhadas do evento;

b) desafio direto de crenças;

c) ampla exposição;

d) tarefa de casa.

Essas diferenças de procedimento salientam as nuances teóricas de ambas terapias. Por exemplo, de acordo com o modelo PAI, os comportamentos disfuncionais e as crenças pessoais, como por exemplo “eu não tenho valor”, não são vistas como a causa da psicopatologia, mas sim como manifestações de memória não processada arquivada e armazenada, juntamente com as sensações físicas e afetivas a ela associadas.

A terapia de EMDR aborda o quadro clínico por meio de uma série de procedimentos padronizados. Esses incluem, levantamento da história clínica, a estabilização e as fases para identificar e processar os seguintes elementos:

a) as memórias de determinado evento adverso do cliente, que estão por trás dos sintomas atuais;

b) as circunstâncias atuais que disparam o desconforto psicológico e

c) as ferramentas necessárias para um comportamento adequado no futuro.

Durante o processo, o cliente é orientado a acessar a memória de uma certa maneira, e mantê-la em mente por pouco tempo enquanto é submetido a uma à estimulação de atenção dual bilateral. Essa estimulação é normalmente feita por meio do movimento bilateral dos olhos, mas pode também ser feita na forma de estímulos táteis ou auditivos. Apesar do uso de movimentos oculares terem gerado alguma polêmica no passado, uma meta-análise realizada recentemente confirmou seus efeitos positivos, incluindo a rápida redução de memórias perturbadoras e a de nitidez das visualizações. Outros dez estudos demonstraram aumento da flexibilidade de atenção, reconhecimento de informação verídica e recuperação de memória episódica como resultado dos movimentos oculares. Duas hipóteses que foram confirmadas por pesquisas apontam que os movimentos oculares acessam a memória de trabalho e iniciam o processamento de memória da mesma forma como ocorre no sono REM.  Durante o processamento de EMDR, a informação corretiva é espontaneamente gerada durante os conjuntos de movimentos oculares. Nesse momento, o cliente vivencia insights, emoções, crenças e respostas físicas positivas, enquanto que os sintomas presentes desaparecem.

Em resumo, o evento perturbador torna-se tanto uma experiência de aprendizado como a base para uma futura resiliência.” (Francine Shapiro, PhD)